NOTÍCIAS
08 DE NOVEMBRO DE 2023
Treinamento de notários e registradores impacta na identificação de operações suspeitas
Especialistas debateram nesta terça-feira (7/11) desafios e caminhos possíveis para que o Brasil possa unir forças no combate ao financiamento de organizações criminosas e até do terrorismo internacional. Por meio de convite da Corregedoria Nacional de Justiça, conselheiros, notários, promotores, registradores, juízes e membros do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) estiveram reunidos em torno de possíveis sugestões para o aprimoramento do Provimento n. 88/2019, que dispõe sobre a política, os procedimentos e os controles a serem adotados pelos cartórios visando à prevenção dos crimes de lavagem de dinheiro e do financiamento do terrorismo.
A capacitação da mão de obra do setor foi apontada como fundamental pelos participantes do “Seminário Atuação dos Cartórios no Combate à Lavagem de Dinheiro e ao Financiamento do Terrorismo”, que ocorreu no auditório do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em Brasília.
O conselheiro do CNJ João Paulo Schoucair, promotor de Justiça na Bahia, reforçou a importância do trabalho conjunto entre cartórios e Sistema de Justiça para que, com o asfixiamento das organizações criminosas, seja possível quebrar a cadeia criminosa das organizações. “Ainda temos muito a caminhar, mas é nítido que esse trabalho possui muita relevância. Quase 70% das operações suspeitas comunicadas ao Coaf advém dos cartórios, que começaram a aperfeiçoar seus sistemas em plena pandemia. Conseguir aperfeiçoar o Provimento 88 é muito bom; em média temos 5 milhões de comunicação por ano. É muita coisa, muito dinheiro criminoso circulando no Brasil”, disse.
Na Bahia, em pouco mais de um ano, o Grupo Especial de Combate às Organizações Criminosas e Investigações Criminais (Gaeco) fez 54 operações, com 154 pessoas denunciadas, 390 prisões e mais de 2.500 armas apreendidas. “O resultado disso foi uma redução de 11,4% nos crimes violentos, tiramos armas da rua e desmobilizamos lideranças criminosas. Esse é um trabalho que precisa ser aprimorado. E, para isso, é preciso melhorar o diálogo, unir informações.”
Coordenador de Inteligência Financeira do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), Henrique de Oliveira questionou o motivo de apenas 1% das informações passadas pelos cartórios serem aproveitadas pelo Conselho. “O Coaf tem sede em Brasília, o que dificulta saber se uma transação que ocorre no interior do país tem ou não alguma irregularidade. Um registro de imóvel, por exemplo, que tem um valor incompatível com a realidade local, pode ser alertado pelos bancos e pelos notários. Essa capilaridade dos cartórios é extremamente importante nesses casos e é por isso que precisamos melhorar o treinamento daqueles que trabalham nesses setores”, afirmou.
Para Henrique de Oliveira, é preciso detalhar a suspeita identificada; informar sobre todas as pessoas relacionadas ao imóvel ou documento registrado e as características gerais da operação comunicada. “Ter informações básicas como quem recebeu e quem pagou. Qual o valor? Recebemos 50 mil comunicações por dia e temos apenas 20 analistas para averiguar todo esse montante. Os dados precisam chegar mais detalhados e claros. E só vamos avançar nisso se houver treinamento em todas as pontas”, defendeu.
O juiz do Tribunal de Justiça do estado do Amazonas (TJAM) Jorsenildo Dourado do Nascimento ressaltou a importância do Provimento 88/2019 ao inserir definitivamente notários e registradores na política nacional de prevenção à lavagem de dinheiro. Ele explicou que o provimento foi incorporado no Código Nacional de Normas da Corregedoria Nacional de Justiça e representa um marco significativo em toda a política de combate a esse tipo de crime.
“Pela primeira vez, uma norma de prevenção à lavagem de dinheiro foi construída a várias mãos – por notários e registradores, assim como pela Justiça – órgão regulador e órgão regulados”, afirmou. O magistrado afirmou que a ausência ou deficiência na política de compliance (que disciplina o cumprimento das normas e regulamentos) pelos cartórios é diretamente proporcional ao aumento do serviço extrajudicial por organizações criminosas, e prática de lavagem de dinheiro no Brasil. “Quanto mais fiscalizados e rigorosos, mais os cartórios conseguirão identificar os indícios de crimes”.
Diálogo
O magistrado citou que entre fevereiro de 2020 a 30 de setembro de 2023, mais de 3 milhões 756 mil comunicações foram enviadas ao Coaf, tornando a atividade extrajudicial brasileira a principal atividade não-financeira colaboradora do Conselho. “Essas informações não chegavam antes ao Poder Judiciário, ao Ministério Público, à Polícia, ao Coaf, para subsidiar todos esses órgãos com mais precisão”, disse. Jorsenildo ponderou, no entanto, que ainda há uma baixa qualidade das informações, ligada à ausência de detalhamento de operações, na falha da identificação dos envolvidos, e nas normas regulamentadoras.
Ele afirmou que a saída para isso é treinamento e fiscalização na política de compliance. “Investir na capacitação dos trabalhadores dos cartórios para evitar que as informações cheguem com poucos detalhamentos. Treinar e capacitar os registradores e notários e seus empregados dos cartórios, para chegarmos à excelência de munir de informações relevantes e específicas o Coaf. Limpar a informação, aperfeiçoá-la”, afirmou.
No Brasil, mais de 6 mil cartórios oferecem serviços à população. O órgão censor central é a Corregedoria Nacional de Justiça que, além de fiscalizar, uniformiza a execução do serviço em todo território nacional. As 26 corregedorias de Justiça dos estados e do Distrito Federal fiscalizam diariamente os cartórios.
O diretor de Supervisão do Coaf, Rafael Bezerra Ximenes de Vasconcelos, também reforçou a ideia da necessidade de fortalecer o treinamento dos especialistas. “Por mais que tenhamos a sorte de não vivermos a face mais cruenta dessas chagas que são o terrorismo e proliferação de armas de destruição de massa no nosso país, isso não quer dizer que rotas de financiamento não passem por aqui. Para isso, a qualificação precisa ser contínua, permanente. Isso que estou escrevendo é algo que o Coaf, Ministério Público, Judiciário, não teriam como saber? Então isso é valioso”, concluiu Ximenes.
Fonte: CNJ
Outras Notícias
Anoreg RS
08 DE SETEMBRO DE 2023
Plenário invalida prazo para regularização fundiária de comunidades tradicionais na BA
Para o colegiado, a norma é incompatível com a proteção territorial devida a essas comunidades. Na sessão desta...
Anoreg RS
08 DE SETEMBRO DE 2023
Corregedoria Nacional abre inspeção ordinária no TJRS na segunda-feira (11/9)
A Corregedoria Nacional de Justiça realiza, entre os dias 11 e 15 de setembro, inspeção ordinária no Tribunal de...
Anoreg RS
08 DE SETEMBRO DE 2023
TST mantém penhora de imóvel alugado para pagamento de dívida
Segundo colegiado, não foi provado que renda da locação se destinava à subsistência ou à moradia familiar da...
Anoreg RS
06 DE SETEMBRO DE 2023
Comissão aprova idade mínima de 16 anos para a união estável, com consentimento dos pais
Projeto ainda será analisado pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania.
Anoreg RS
06 DE SETEMBRO DE 2023
Cartórios gaúchos promovem campanha de arrecadação aos atingidos pelas chuvas no Rio Grande do Sul
Vamos juntos demonstrar a solidariedade dos notários, registradores e prepostos de todo o estado. Para participar...